A AUTONOMIA PRIVADA DOS MORTOS E SEUS SUCESSORES E O DIREITO À VIDA: A LEI DE TRANSPLANTES E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Resumo
O presente artigo tem por objetivo o estudo acerca da atual regulação da doação de órgãos e tecidos à luz de nossa Constituição Federal de 1988, especialmente analisando o enfrentamento entre o direito fundamental à liberdade de escolha (autonomia privada) e o direito à vida frente ao direito, também fundamental, à liberdade de crença e de religião, partindo da análise de alguns conceitos dos direitos envolvidos para, em seguida, ingressar na questão específica sobre o tema proposto, analisando a legislação, a doutrina e a jurisprudência correlata à questão e as comparando com dispositivos e interpretações possíveis de nossa Constituição. Adotam-se, para tanto, duas abordagens metodológicas distintas: a primeira exploratória, justamente do enquadramento conceitual de cada um dos principais objetos que envolvem a questão analisada, por meio de uma pesquisa eminentemente bibliográfica; e a segunda, por sua vez, analítica-quantitativa, observando e analisando alguns dados brasileiros sobre a questão da doação. O artigo pretendeu, portanto, fazer uma abordagem teórica sobre os aludidos tópicos e, ao final, verificou a possibilidade, de acordo com uma interpretação constitucional, de obrigatoriedade na doação de órgãos e tecidos post mortem na hipótese de o de cujus não ter se autodeclarado.Referências
BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e possibilidades da Constituição Brasileira. 7.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
; BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da história. A nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. In: BARROSO, Luís Roberto (Org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
BERLIN, Isaiah. Dois conceitos de liberdade. Estudos sobre a humanidade: uma antologia de ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1999, p. 226-272.
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/142transplante_de_orgaos.html>. Acesso em 23 abr. 2021.
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Autonomia privada e negócio jurídico. Revista do Curso de Direito da UNIFACS, Porto Alegre, v.5, p.69-87, set. 2005.
BRASIL. STF. ADI 4439/DF. Rel. Min. Roberto Barroso. Julgamento em 27 set. 2017. DJe de 21 jun. 2018.
BRITTO, Carlos Ayres. O humanismo como categoria constitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2010.
BRUZZONE, P. Religious Aspects of Organ Transplantation. Transplantation Proceedings. 2008.
CARDOSO. Alenilton da Silva. Princípio da solidariedade: o paradigma ético do direito contemporâneo. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira. 2010.
CONCI, Luiz Guilherme Arcaro. Colisões de direitos fundamentais nas relações jurídicas travadas entre particulares e a regra da proporcionalidade: potencialidades e limites da sua utilização a partir da análise de dois casos. In: ROCHA, Maria Elizabeth Guimarães Teixeira; MEYER-PFLUG, Samantha Ribeiro (Coords.) Lições de direito constitucional: em homenagem ao professor Jorge Miranda. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
DIAS, Roberto. O direito fundamental í morte digna: uma visão constitucional da eutanásia. Belo Horizonte: Fórum, 2012.
DWORKIN, Ronald. Religion without God. Cambridge: Harvard University Press, 2013.
_______. O direito da liberdade: a leitura moral da Constituição norte-americana. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FERRAZO, Sílvia; VARGAS, Mara Ambrosina de Oliveira; MANCIA, Joel Rolim; RAMOS, Flávia Regina Souza. Crença religiosa e doação de órgãos e tecidos: revisão integrativa da literatura. Revista de Enfermagem da UFSM. Santa Maria, set./dez. 2011. pp. 449/460.
GARCIA, Clotilde Druck (org.) Doação e transplante de órgãos e tecidos. São Paulo: Segmento Farma, 2015.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 1. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa:
Edições 70, 2007, traduzida do alemão por Paulo Quintela.
KLEIN, Joel Thiago. Liberdade e Religião: a relação entre religião, política e direito em Kant, pp. 95-140. In: KLEIN, Joel Thiago; NAHRA, Cinara; MENEZES; Antônio Basílio N. T. de. A religião em questão. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
LASSALE, Ferdinand. O que é uma Constituição. Tradução de Hiltomar Martins Oliveira. Belo Horizonte: Líder, 2002.
LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a autonomia. Bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina,v.6,n.1,1998.Disponívelem:<http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/324/392>. Acesso em 23 abr. 2021.
MARTINS, Leonardo. Liberdade religiosa e liberdade de consciência no sistema da Constituição Federal. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC, Belo Horizonte, ano 2, nº 5, p. 27-48, jan./mar. 2008.
MEIRELLES, Jussara Leal de. A vida humana embrionária e sua proteção jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/d/doacao-de-orgaos>. Acesso em: 23 abr. 2021.
_______. Disponível em: <https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/15/Brasil.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2021.
MONTESQUIEU, Charles de Secondat. De l'esprit de lois, Paris, Édition Garnier Frères, 1956, XI, 3.
NETO, Luísa. O direito fundamental í disposição sobre o próprio corpo: a relevância da vontade na configuração do seu regime. Coimbra: Coimbra, 2004, p. 652-685.
NOVAIS, Jorge Reis. Direitos fundamentais: trunfos contra a maioria. Coimbra: Coimbra, 2006, Capítulo VI, p. 211-282.
OLIVEIRA, Patrícia Elias Cozzolino de. A Proteção Constitucional e Internacional do Direito í Liberdade de Religião. 1. ed. São Paulo: Editora Verbatim, 2010.
PESSINI, Léo. A eutanásia na visão das grandes religiões mundiais (budismo, islamismo, judaísmo e cristianismo). Bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina, v. 7, n. 1, p. 83-99, 1999.
PINZANI, Alessandro. Estado laico e interferência religiosa, pp. 267-288. In: KLEIN, Joel Thiago; NAHRA, Cinara; MENEZES; Antônio Basílio N. T. de. A religião em questão. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
RIVERO, Jean. Lés libertés publiques - 1. Les droits de'l Homme. Paris, PUF, 1973.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A judicialização da política. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/078en.php>. Acesso em: 23 abr.2021.
SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite. Transplante de órgãos e eutanásia: liberdade e responsabilidade. São Paulo: Saraiva, 1992.
SARMENTO, Daniel. Livres e iguais: estudos de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
SENADO FEDERAL. PROJETO de lei 453/2017. Disponível em: < https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/131654>. Acesso em: 23 abr. 2021.
_______. PROJETO de lei 3.176/2019. Disponível em: < https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/137006>. Acesso em 23 abr. 2021
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 30. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2008.
SILVA, Virgílio Afonso da. O proporcional e o razoável. Revista dos Tribunais n. 798, 2002, p.23-50. Disponível em: <https://constituicao.direito.usp.br/wp-content/uploads/2002-RT798-Proporcionalidade.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2021.
TAVARES, André Ramos. O direito fundamental ao discurso religioso: divulgação da fé, proselitismo e evangelização. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC, Belo Horizonte, ano 3, nº 10, p. 17-47, abr./jun. 2009.
_______. Religião e neutralidade do Estado. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte, ano 2, n. 5, pp. 13-25, jan./mar. 2008.
. A superação da doutrina tripartite dos "poderes" do Estado. Revista de Direito Constitucional e Internacional (RDCI 29/66) – out.-dez.,1999.
ZYLBERSZTAJN, Joana. O princípio da laicidade na Constituição Federal de 1988. 2012. 248 f. Tese (Doutorado em Direito). Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A publicação na Revista Pensamento Jurídico implica a aceitação das condições da Cessão de Direitos Autorais de Colaboração Autoral Inédita, e Termo de Responsabilidade, que serão encaminhados ao(s) autor(es) com o aceite.